HOMENAGEM A DELEGADA MARIA CLEONICE
Eu?
Eu fui vida e trabalho.
Servi a Deus e ao homem, que aqui é servir a si mesmo.
A Ele, por sua bondade e infinita misericórdia, somente tenho a agradecer pelos anos vividos.
Quanto ao homem, este é que deve ser grato a mim.
Trabalhei sempre com o fito de melhorar o dia de cada um.
Fi-lo.
Jogaram-me às pedras, e as removi dos caminhos.
Quando não mais tinham pedras no meio de um certo caminho, davam-me outros.
E as removi, deixando a vida mais amena.
Em suma: combati o bom combate, terminei a corrida, guardei o ofício.
‘Vim, vi, venci’´, como César.
Uma outra vida me esperava.
Saí da vida de todos para viver a minha.
Descansei.
A despeito da fragilidade de os nossos dias, que vão nos consumindo, fui vivendo.
O Senhor é minha testemunha, porque me fortalecia.
Esperança é Ele.
Quando, então, fui chamada.
Parto.
De certo, para uma vida plena, justa.
Cheia de Luz.
Assim, não chorem por mim.
Rezarei por vocês.
A vida, dádiva do Senhor, continua.
E ela é bela.
Fui intensa e infinita enquanto durei.
Sigam-me.
Unidos, e sempre, na graça do Nosso Pai Celestial.
Até mais tarde.
Soneto
Ah, a morte!, essa mudança de caminho
‘A morte não é nada’
Perdão, Santo Agostinho!
Deixa a vida dilacerada
Uma triste partida
Todos órfãos, seus amores
Ainda que descanso desta vida
Como Raquel, choramos nossas dores
É que não se aceita essa mudança
Da vida para a morte
E esperar não cansa
Mas, se à luz se segue a noite escura
Um mesmo Ponto une o começo ao fim
É aqui o encontro do Criador à criatura