MINUTO POÉTICO
Vivendo o mundo em Pandemia, ainda lhe cabe a Poesia. Um mundo somente feito de coisas ruins, pobre do homem, não? Que, aliás, o homem é mesmo um pobre, quase não vive, respira. Asfixiado pelo peso da vida que em si mesmo deposita, e hoje acometido por uma enfermidade sufocante igualmente, vive preso e refém do medo. Pandemias, desilusões, desencontro com a vida, um pouco de Poesia alivia lhe trazendo esperança. Tocando os Corações, elevando a Alma, a Poesia traz o homem à reflexão despertando para esse mundo embrutecido e desalmado. A isso se presta também. Em ‘A Rosa do Povo’, coletânea de Poemas sublimes, o genial Drummond denuncia um período sombrio vivido, este sempre se repetindo, o homem sem chão e até sem visão da Esperança, chama e luz de sua caminhada. – Não cantaremos o amor, refugiado abaixo dos subterrâneos, mas o Medo: dos abraços, dos soldados, das igrejas, dos ditadores, da morte (faz lembrar algo?). Sobre nossos túmulos, flores: amarelas e medrosas – Congresso Internacional do Medo. – Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta: Trouxeste a chave? – Procura da Poesia.
Seguem dois Poemas de nossa lavra. No primeiro, rendo homenagem a todas as mulheres (Rosa). É estranho que em pleno Século XXI, e ainda seja vítima de tanto Preconceito e mais: brutalizada. Até quando, ‘Casa-Grande & Senzala’? No outro (Existencial), remeto à condição do homem. Corpo e Alma em atrito. Disse Cristo: – Meu reino não é deste mundo. João 18:36.
Minha Rosa – Poema
Rosa,
Tenho verso, escondido, imerso
Clama seu corpo, uma cama
Gemidos, gozos divididos
Passando
Rosa vai me devorando
É seu meu pensamento, me aquece por dentro
Move-me seu corpo, e não é pouco
Seios, devaneios, vejo, puro desejo
Rosa provoca, me evoca
Primícias
Beijos e carícias
Imagem
Gata selvagem
Rosa arranha, me assanha
Seu cio, eu vadio
Quando se deita, ah, Rosa é perfeita
Se mexe, faz manobra, ela sobra
Incita, como excita, ah, bendita
Nu, mundo azul
Meu sorriso, paraíso, Rosa louca
Vou do céu de sua boca
Às magináveis partes, e com arte
Sou assanhado nesse corpo sonhado
Rosa,
Ah Rosa, chama, fim de quem ama
Me apego, perdidamente me entrego
Um feitiço
Deito, e é por isso
Alma Minha – Poema
Alma minha, por que tanto falas?
Te calas
Essa tua aflição
Me inquieta o coração
Confesso, tenho medo
Nada sei dos teus segredos
Alma minha, que penas
Te peço apenas
Sossegas, tens calma
Parte do meu corpo, amálgama
Comigo, navegas
Sei, meu destino, carregas
Minha alma tem um quê…
Ah, não sei dizer
Parece-me deslocada, perdida
Infeliz com esta vida
Presa em meu corpo
Reclama, clama, coisa de louco
Minha alma não entende
E até me surpreende
Não aceitar seu motivo
Parte de mim, viver comigo
Embora contrariada
Sou por enquanto sua morada
Mas minha alma tem razão
Não sendo ela desse chão
Seu mundo o infinito
Natural todo esse agito, seu grito
Ela quer mesmo é se libertar
A Ele, ao Eterno voltar.
José Maria