CRIANÇAS CARENTES GANHAM INGRESSOS PARA IR PELA PRIMEIRA VEZ AO CINEMA, MAS SÃO BARRADAS NO CINE ELDORADO, EM GARANHUNS
Essa é destaque no V&C Garanhuns, http://www.vecgaranhuns.com/
Um incidente ocorrido no Cine Eldorado no último domingo, 15 de julho, repercutiu bastante nas redes sociais e abriu a discussão sobre até que ponto, e em que situação, crianças desacompanhadas podem entrar no cinema sem a presença dos pais ou responsáveis, e, além disso, quais seriam os trajes permitidos para essa entrada.
A questão é complicada porque cada estado estabelece suas normas, sempre tendo como referência o ECA, (Estatuto da Criança e do Adolescente). Via de regra, crianças com mais de 10 anos podem sim ir ao cinema desacompanhadas. Mas o caso em discussão vai mais além. Ele suscita também a suspeita de uma possível discriminação e preconceito por parte de funcionários do Cine Eldorado na abordagem a duas crianças carentes que ganharam, da generosidade de dois casais, a oportunidade verem um filme na telona pela primeira vez.
Nós conversamos com um dos personagens dessa história, e ele contou sua versão dos fatos. Arthur Oliveira disse ao V&C que, no último domingo, na sessão das 18h40min, foi abordado por duas crianças carentes na porta do cinema de Garanhuns. Descalças e com roupas sujas e rasgadas, os meninos pediram a ele e sua namorada que pagassem suas entradas para ver o filme, Os Incríveis 2. Os ingressos foram comprados e doados, em um exemplo de altruísmo muito bonito, mas na hora de seguir para sala de exibição, as crianças foram barradas sob a alegação de que não entrariam com o casal pois estavam descalças e podiam se cortar.
Surpreso, Arthur não desistiu. Contando com a solidariedade de outro casal, ele tentou contornar a situação indo ao Bonanza comprar um par de sandálias para os menores, mas não encontrou. De volta ao cinema, o impedimento continuou e, o que era pra ser uma noite mágica, já que os meninos nunca tinham ido ao cinema, acabou em frustração. “Era visível o olhar de tristeza e choro dos dois”, disse Arthur. De fato, a alegação da gerência, de que as crianças estavam descalças podiam se cortar, é uma desculpa muito tacanha para quem sabe a alegria que dá ver o sorriso na face de uma criança, sobretudo se esta for carente.
Ainda segundo Arthur, o pessoal da Moviemax, do Recife, proprietários do Cine Eldorado, entrou em contato com ele depois do episódio para emitir um pedido de desculpas pelo ocorrido. A empresa ainda ofereceu um mês grátis de cinema para as duas crianças com direito a pipoca e refrigerante, mas, até o fechamento desta matéria ,a duplinha, órfã ainda dos prazeres da Sétima Arte, não havia sido encontrada para receber a recompensa pelo constrangimento. “Vou tentar encontrá-los. Não vou desistir. Foi uma situação constrangedora e triste. Só quisemos ajudar e fomos barrados por uma besteira. Até tentei dar meu calçado para eles, mas não teve acordo,” salientou Arthur.
O blog procurou o Conselho Tutelar para analisar a questão. Segundo Genoveva Alves, uma das conselheiras, se o impedimento se desse porque as crianças estavam desacompanhadas dos responsáveis, seria até compreensível a posição do cinema. Mas barrar porque eles estavam descalços ou até sujos e com roupas precárias é visto como uma discriminação e preconceito. “Eu vejo que se o casal ficou responsável por eles e queria pagar a entrada, não há motivos para que os menores não pudessem entrar. Se era classificação indicativa livre, não tinha problema. O adolescente, o ser humano tem o direito de ir e vir. Se eles tiverem em situação de risco é outra coisa, porque ai o Conselho pode chegar e leva-los a um responsável. Mas por eles estarem apenas descalços não deveria serem barrados. Se tinha alguém que queria pagar o lanche e os ingressos, eles poderiam ficar, sim”, disse a conselheira.
O V&C também procurou a gerência do Cine Eldorado, mas a pessoa responsável não estava presente. Deixamos o número do celular para obtermos uma informação, mas, até o fechamento desta publicação, não houve nenhum contato. Segundo Arthur Vieira, as duas crianças aparentavam ter 10 anos.