ELE SE MATOU

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

– Ele se matou

E a tristeza invade a alma, calma, corpo paralisado, chocado, e se tenta absorver o que não se queria ouvir e dizer, sentido não se fazendo entender o porquê, não havendo resposta para o compreender. O certo é que se a dor do corpo, e qualquer doer não é pouco, é em si uma desgraça, que ao homem é ameaça, imagina e nomina uma dor que não é vista, arrasadora de qualquer ponto de vista, culminando e findando com a vida, não vivida, tamanha a insuportável dor do sofredor.

– Deus, Senhor, a minha alma se agita e grita, de há muito anda aflita. Ela não vê sentido nesse mundo, eu nesse corpo moribundo, aparentemente sadio, mas por um fio, reflexo de minha alma doente e descontente, aqui deslocada e tresloucada.

– Oh, Senhor, se me destes a dor, recebei-me com amor. Lembrai do Vosso Filho, que disse: ‘Pai, afastai de mim este cálice’. Ora, se ante ‘a hora’, Cristo Jesus, que via a cruz, suplicou, quem eu sou, se nada sou.

A dor que não é vista – Poema

Via um rosto que se mostrava

Numa aparente alegria

Não via o que em tristeza se fechava

Com alma em agonia

Via um corpo inteiro

Montado, sem fissuras

Não via o homem guerreiro

E seu estado d’alma, de amargura

Via um homem e tudo que nele se encerra

Ocupando seu lugar em cada espaço

Não via o estando em pé de guerra

Numa luta que vai se perdendo pelo cansaço

Via um homem arrumado, rodeados de amigos

Seus passos dados para cumprimento do dia posto

Não via que tudo era forçado, ele sozinho, em desabrigo

Caminhando perdido, sem sentido, vida em desgosto

Via que tudo se passava, ele ali presente

Cumprimentos, seu curso seguindo

Não via o ser que ali estando era um ausente

Tristemente ele sucumbindo

Depressão – Soneto

Transtorno da mente, trauma

Da alma se apodera e tudo esvazia

Vai minando o corpo e dilacerando a alma

Um viver de tristeza e agonia

Chaga da vinha e do vinheiro

Da existência fazendo um desencanto

Desliga o homem da vida por inteiro

Que vai secando e morrendo em seu canto

E vai vivendo em eternos dias escuros

Mar revolto e envolto em tempestades

Vida de apuros

Destruidora do homem e sua razão

De todas as vontades de viver

Eis este mal arrasador: a depressão

José Maria

Postado Por: Paulo Fernando