ELE SE MATOU
– Ele se matou
E a tristeza invade a alma, calma, corpo paralisado, chocado, e se tenta absorver o que não se queria ouvir e dizer, sentido não se fazendo entender o porquê, não havendo resposta para o compreender. O certo é que se a dor do corpo, e qualquer doer não é pouco, é em si uma desgraça, que ao homem é ameaça, imagina e nomina uma dor que não é vista, arrasadora de qualquer ponto de vista, culminando e findando com a vida, não vivida, tamanha a insuportável dor do sofredor.
– Deus, Senhor, a minha alma se agita e grita, de há muito anda aflita. Ela não vê sentido nesse mundo, eu nesse corpo moribundo, aparentemente sadio, mas por um fio, reflexo de minha alma doente e descontente, aqui deslocada e tresloucada.
– Oh, Senhor, se me destes a dor, recebei-me com amor. Lembrai do Vosso Filho, que disse: ‘Pai, afastai de mim este cálice’. Ora, se ante ‘a hora’, Cristo Jesus, que via a cruz, suplicou, quem eu sou, se nada sou.
A dor que não é vista – Poema
Via um rosto que se mostrava
Numa aparente alegria
Não via o que em tristeza se fechava
Com alma em agonia
Via um corpo inteiro
Montado, sem fissuras
Não via o homem guerreiro
E seu estado d’alma, de amargura
Via um homem e tudo que nele se encerra
Ocupando seu lugar em cada espaço
Não via o estando em pé de guerra
Numa luta que vai se perdendo pelo cansaço
Via um homem arrumado, rodeados de amigos
Seus passos dados para cumprimento do dia posto
Não via que tudo era forçado, ele sozinho, em desabrigo
Caminhando perdido, sem sentido, vida em desgosto
Via que tudo se passava, ele ali presente
Cumprimentos, seu curso seguindo
Não via o ser que ali estando era um ausente
Tristemente ele sucumbindo
Depressão – Soneto
Transtorno da mente, trauma
Da alma se apodera e tudo esvazia
Vai minando o corpo e dilacerando a alma
Um viver de tristeza e agonia
Chaga da vinha e do vinheiro
Da existência fazendo um desencanto
Desliga o homem da vida por inteiro
Que vai secando e morrendo em seu canto
E vai vivendo em eternos dias escuros
Mar revolto e envolto em tempestades
Vida de apuros
Destruidora do homem e sua razão
De todas as vontades de viver
Eis este mal arrasador: a depressão
José Maria